O trabalho que te faz feliz




Dizem que o trabalho enobrece o homem. Isso não é bem realidade segundo a História e não precisa voltar muito no tempo para saber. Na antiguidade a nobreza se fartava de dinheiro e não era por esforço, trabalhando para alguém, nada semelhante. Esbaldavam-se em suas riquezas com a compra de jóias, com estudo, com esportes, enfim, nada que começasse com a letra T ou que exigisse muito suor.

Trabalhar, na maioria das vezes, sempre foi tarefa de Classe C, D e E. Certamente que em um país como o Brasil em franco crescimento existe um espaço para executivos, empresários, cargos ocupados pelo alto plantel do nosso país, óbvio. Com uma oportunidade mínima para as camadas inferiores.

Lembro-me quando fiz 18 anos e achei-me apta para o mercado de trabalho. "Agora sim virarei gente, comprarei minhas próprias coisas, um carro, uma casa, um avião, etc." O que a maioria dos jovens parecem não entender e o que eu não entendia também, que a vida é dura caro leitor. Não é as mil maravilhas que pensamos ser. Trabalhamos muito, ganhamos pouco. Trabalhamos pouco, ganhamos miséria. Trabalhamos nada, viramos filhinhos de mamãe até que alguém nos desencalhe.

- Se trabalho fosse bom, não se chamaria trabalho. - dizia meu velho e bom pai (quase um filósofo eu sei), quando eu queria desistir de tudo e voltar a ser a filhaúnicadependentemimadacheirandoaleite deles.
- Mas pai, trabalhar de telemarketing é muito ruim, minha cabeça dói demais, as pessoas não querem nem me ouvir...
- Tudo vale como um aprendizado. - respondia de imediato e sim, ele tinha toda a razão.

O nosso pior problema é que nos achamos especiais. Essa geração se acha especial e o que é pior, sem ter conquistado absolutamente nada. E quando surge um obstáculo a nossa frente, como algo que não era compatível com o que imaginávamos ou com a grandeza que achamos merecer, vem a frustração. E não há nada pior no mundo do que ser uma pessoa frustada. Começar sempre por baixo, pode ser sim um avanço, dependendo da forma como se seguir.

Até um mendigo pode ser mais feliz do que você. Sim, um mendigo, não precisa se espantar. Eu cheguei a conhecer um, o nome dele era Carlos, ele vivia na rua a cantarolar, simpático, amigo, boa gente sabe? Eu no meu vigor dos 17 anos querendo mostrar serviço e não gostando dos entulhos da rua, peguei uma pá e fui começar o meu "primeiro pequeno trabalho."
- Bom dia Stefa .- ele tinha problemas em pronunciar meu nome inteiro.
- Bom dia Carlitos, ufa! .- sim na primeira "pazada" eu já estava cansada.
- Então quer dizer que hoje o dia é de colocar a mão na massa? - ele respondeu sorridente.
- É, talvez... Urghh... - eu não estava aguentando mais falar.
- Que bom que você se sente feliz assim.
Eu tive que parar naquele momento e olhar fixamente para ele incrédula. Como alguém em sã consciência poderia achar que eu estava feliz realizando aquela atividade naquele calor? Mas ele nem notou que eu estava surpresa e continuou a sorrir. Então respondi:
- Já estou chegando nos 18 anos e quero muito trabalhar, por isso vim aqui ajudar, evita a fadiga.
- Ah, que pena. - ele respondeu desapontado.
- Por quê?
- Você é menos inteligente do que pensei.
- Ei, não precisa ofender.
- Veja bem, quanto vale um conselho de um mendigo para você?
- O seu? Para mim vale muito. - ele abriu um imenso sorriso, que sujeito adorável.
- Nunca Stefa, nunca, trabalhe em algo que não te faz feliz e se for trabalhar que seja temporário. Que seja a ponte para enfim você trabalhar no que interessa.
- Como você tem tanta certeza? Você é catador de latinhas, não é possível que seja feliz.
- Pois sou e muito. E digo mais, não há ninguém nessa rua mais feliz do que eu. Sou um aventureiro. Sou da rua, aqui é meu lugar. Descubra o seu e agarre, nunca mais solte.
- Nossa Carlitos, ao contrário do que você pensa sobre mim, você é mais inteligente do que eu pensei.
Ele sorriu e saiu cantarolando pela rua. No outro dia fui perguntar para ele sobre a conversa, ou instigá-lo a me passar mais sabedoria, mas ele não se lembrava de mais nada. Eu sei, ele é uma daquelas pessoas inesquecíveis. E ele também tinha toda a razão.

Por isso pense, analise friamente todas as suas opções. Fazer uma faculdade é importante sim para se ter um futuro, mas é muito mais do que isso. É ser capacitado para trabalhar no que se gosta e isso faz toda a diferença. É administrar o seu talento e maximizá-lo. Não ser apenas mais um, mas sim dar sempre o seu melhor para aquilo que realmente te importa.

O trabalho pode sim ser bom, só depende de como você quer fazê-lo.

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@stefaniafonso
















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