O vegan contraditório



Eu não gosto de coisas verdes. Não sei se fui obrigada quando era criança a comê-las, por isso que digo e reafirmo da forma mais infantil e adequada na maioria das vezes "Eu não gosto de coisas verdes".
Vamos retirar as frutas desse quesito, até porque caipirinha de kiwi é uma maravilha e o que falar da vitamina de abacate? Divina.

Os vegetais é que não me atraem. Até como uma folha de alface ou duas no máximo, mas digam-me qual a graça de comer algo sem gosto? Tudo bem, sei que faz bem, estou sendo preconceituosa e o papo já está ficando um pouco indigesto, por isso como não quero que você vire a página vou falar, ou melhor, escrever aonde quero chegar.

Fui ao shopping ver a minha amiga, resolvi esperar na praça de alimentação, pois ela estava terrivelmente atrasada (como de costume). Procurei não me estressar e comecei a ler.
Quando estava no clímax da leitura um rapaz interrompeu-me. Logo arqueei as sobrancelhas e fiz a pior cara que pude (só quem aprecia um livro, sabe como é ruim ser interrompido), ele foi logo desculpando-se e se propôs a dialogar comigo.

Entendam, eu não poderia dispensá-lo, ele tinha carisma e alguma coisa me dizia que eu poderia aprender algo com aquela conversa, ou simplesmente colocá-la no blog como estou fazendo.

- Então quer dizer que você adora ler? - ele disse.
- Sim.
- Que bom, isso é maravilhoso.
- Eu sei. - respondi com aquele sorrisinho sem graça, apenas curiosa para ver onde esse cara iria chegar.
- Olha, eu sou um viajante sabia? Vivo como um nômade praticamente.

Oh meu deus, não podia acreditar, finalmente o meu maior sonho tinha se realizado, um viajante do futuropassado ali na minha frente, poderia enfim reviver o Jurassik Park? Será que ele me daria a honra de visitar o Schwarzenegger e ser uma exterminadora do futuro também?

Como podem imaginar eu divaguei, ele era um simples nordestino, mas com muita vontade e cheio de histórias para contar. Um homem de olhos azuis vibrantes, barba por fazer, que gesticulava com as mãos e era muito espiritualizado. Disse "As pessoas perdem tempo com o consumismo, se matam com o Mc Donald's sendo que a carne da vaca é a mais sagrada que existe".

Concordo com ele até a parte do Mc Donald's e deixo claro que não tenho preconceito com ideologias e religião contanto que não queiram converter ninguém a força. "As pessoas compram coisas desnecessárias o tempo todo e o que realmente importa? Onde vamos parar com esse consumismo?" Ele continuou e como boa ouvinte só absorvi a conversa e concordei sem deixar de lado algumas observações como: "Eu gosto de um churrasco de vez em quando", "Não entendo o por que de comprarem um celular e parcelarem em 24663245234723 x no talão das Casas Bahia", "Sim, eu também curto um miojo de vez em quando".

Foi bacana o nosso papo socialista, mas não podia acreditar que ele não viria com interesse. Sexto sentido ou algo do tipo, mas estava armada para isso. Quando finalmente me mostrou seus livros, pensei: "AHÁ, ele vai me vender".

Dito e feito. Esperei de coração aberto que ele pudesse me dar algum, falava sobre religião, hindu para ser mais precisa. Mas ele quis me vender. Um vendedor reclamando do consumismo. Não importa qual o seu produto, vendas são vendas, business é business e sinceridade conta muito. Contradição então? Um ponto muito negativo.

Recusei e poucos minutos depois ele se despediu. Admirei a sua coragem e força de vontade, porém a abordagem pareceu-me um pouco pecaminosa. Mas ele faz por amor, então deixe-o.

Duas horas se passaram e finalmente minha amiga chegou.
- Eu sei amiga, me desculpa, mas você sabe como é o serviço.
- Você é foda, deixa pra lá e me dá um abraço! - não queria ser chata, fazia muito tempo que não a via.
Nos abraçamos e ela disse:
- Nossa estou morrendo de fome... O que você vai querer?
- Eu vou querer carne.

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